No âmbito do ciclo de seminários Ciência e Império, Inácio Dias de Andrade (Pós-doc, Departamento de Antropologia da Universidade de São Paulo) apresenta a comunicação “Uma modernidade alternativa? Arquitetura, urbanidade e colonialismo em Lourenço Marques no período tardo-colonial” no dia 23 de Janeiro, 12h30, na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (Edifício C8, Sala 8.2.12) .
Resumo: Recentemente, o conjunto arquitetônico das ex-colônias portuguesas vem sendo celebrado como obra de um grupo de profissionais autônomos que, à revelia do regime ditatorial salazarista, buscou criar uma utopia moderna em África. Entretanto, por detrás das supostas diretrizes humanistas de seus idealizadores, visões particulares sobre raça e a percepção de que as colônias eram ambientes de promiscuidade e perigo forjaram os modos pelos quais os técnicos coloniais definiram os estilos arquitetônicos hoje celebrados. Durante o período tardo-colonial, a incessante busca por um estilo tradicional português em África, revela uma preocupação comum aos administradores metropolitanos: o medo de que, em meio a um ambiente inóspito, os colonos europeus perdessem seus hábitos civilizados e, por fim, sua própria branquitude. Para administradores e arquitetos coloniais, elementos estilísticos da casa tradicional portuguesa – e, posteriormente, da estética modernista – deveriam funcionar como uma âncora civilizacional para preservação da sociedade europeia nas colônias africanas. Neste sentido, a recente discussão estilística sobre a geração africana de arquitetos portugueses negligencia uma questão central: como diferentes escolas de arquitetônicas foram utilizadas para gerir a vida privada de colonos e autóctones, de modo a criar espaços urbanos higienicamente segregados, mas relativamente porosos.