Mobilising Archives: photography in Southwest Angola investiga o desenvolvimento da fotografia com intenção etnográfica através de colecções criadas numa mesma região entre as décadas de 1930 e 1990. Combinando trabalho de arquivo em Portugal e de terreno em Angola, a investigação foca-se em 3 colecções fotográficas e seus arquivos, e na resposta contemporânea de populações locais a fotografias que tanto abrangem o período colonial como pós-independência de Angola.
Entre as três colecções fotográficas que constituem o objeto desta investigação conta-se a de António Carreira (1905-1988), produzida no contexto das Missões de Prospecção Etnográfica que desenvolveu para o actual Museu Nacional de Etnologia entre 1965 e 1969, cujo estudo decorrerá a par da investigação realizada sobre a respectiva documentação integrada no Arquivo Histórico do Museu. A relação entre fotografia e o trabalho etnográfico de Padre Carlos Estermann (1896-1976), missionário da Congregação do Espirito Santo, será também abordado, compreendendo o período entre as décadas de 1930 e 1973. Por fim, a colecção de Ruy Duarte de Carvalho (1941-2010), abrangendo a década de 1990, e em contraste com as duas outras, tanto mais focada num grupo étnico, os pastores ovakuvale, como realizada de modo independente.
A pesquisa visa compreender a trajectória histórica e os usos contemporâneos dessas coleções para explorar como diferentes contextos de produção e recepção afetam seus significados sociais ao longo do tempo – e apresentar os seus resultados numa exposição virtual. Ao mobilizar essas coleções do arquivo para o terreno e de volta novamente, a pesquisa avaliará através de foto-elicitação e de nova práctica fotográfica, as ressonâncias de dois tópicos entre cientistas sociais e populações indígenas. a) Analisará as persistentes mas variáveis abordagens ao género realizadas pelos fotógrafos selecionados em relação às percepções de indígenas contemporâneos. b) Explorará a resiliência actual das economias domésticas rurais às precárias condições ecológicas próprias de montanhas com um ecossistema semi-árido, um tópico que os fotógrafos anteriores apenas abordaram marginalmente nas suas próprias colecções. Este projeto pretende por isso contribuir para questões climáticas globais, bem como para estudos de gênero, e ao mesmo tempo agregar valor aos estudos de antropologia visual sobre a evolução de práticas fotográficas científicas e a debates sobre práticas de arquivamento, cientificas e de exibição.
O projecto é conduzido pela investigadora Inês Ponte, e tem como parceiro o Museu Nacional de Etnologia.